segunda-feira, 29 de abril de 2013

O QUE É UM PSICOPATA?


O termo “psicopata” caiu na boca do povo, embora na maioria das vezes seja usado de forma equivocada.

Na verdade, poucos transtornos são tão incompreendidos quanto a personalidade psicopática.

Descrita pela primeira vez em 1941 pelo psiquiatra americano Hervey M. Cleckley, do Medical College da Geórgia, a psicopatia consiste num conjunto de comportamentos e traços de personalidade específicos. Encantadoras à primeira vista, essas pessoas geralmente causam boa impressão e são tidas como “normais” pelos que as conhecem superficialmente.
No entanto, costumam ser egocêntricas, desonestas e indignas de confiança. Com freqüência adotam comportamentos irresponsáveis sem razão aparente, exceto pelo fato de se divertirem com o sofrimento alheio. Os psicopatas não sentem culpa. Nos relacionamentos amorosos são insensíveis e detestam compromisso. Sempre têm desculpas para seus descuidos, em geral culpando outras pessoas. Raramente aprendem com seus erros ou conseguem frear impulsos. Não é de surpreender, portanto, que haja um grande número de psicopatas nas prisões. Estudos indicam que cerca de 25% dos prisioneiros americanos se enquadram nos critérios diagnósticos para psicopatia. No entanto, as pesquisas sugerem também que uma quantidade considerável dessas pessoas está livre. Alguns pesquisadores acreditam que muitos sejam bem-sucedidos profissionalmente e ocupem posições de destaque na política, nos negócios ou nas artes.
Especialistas garantem que a maioria dos psicopatas é homem, mas os motivos para esta desproporção entre os sexos são desconhecidos. A freqüência na população é aparentemente a mesma no Ocidente e no Oriente, inclusive em culturas menos expostas às mídias modernas. Em um estudo de 1976 a antropóloga americana Jane M. Murphy, na época na Universidade Harvard, analisou um grupo indígena, conhecido como inuíte, que vive no norte do Canadá, próximo ao estreito de Bering. Falantes do yupik, eles usam o termo kunlangeta para descrever “um homem que mente de forma contumaz, trapaceia e rouba coisas e (...) se aproveita sexualmente de muitas mulheres; alguém que não se presta a reprimendas e é sempre trazido aos anciãos para ser punido”. Quando Murphy perguntou a um inuit o que o grupo normalmente faria com um kunlangeta, ele respondeu: “Alguém o empurraria para a morte quando ninguém estivesse olhando”.
O instrumento mais usado entre os especialistas para diagnosticar a psicopatia é o teste Psychopathy checklist-revised (PCL-R), desenvolvido pelo psicólogo canadense Robert D. Hare, da Universidade da Colúmbia Britânica. O método inclui uma entrevista padronizada com os pacientes e o levantamento do seu histórico pessoal, inclusive dos antecedentes criminais. O PCL-R revela três grandes grupos de características que geralmente aparecem sobrepostas, mas podem ser analisadas separadamente: deficiências de caráter (como sentimento de superioridade e megalomania), ausência de culpa ou empatia e comportamentos impulsivos ou criminosos (incluindo promiscuidade sexual e prática de furtos).

TRÊS MITOS
Apesar das pesquisas realizadas nas últimas décadas, três grandes equívocos sobre o conceito de psicopatia persistem entre os leigos. O primeiro é a crença de que todos os psicopatas são violentos.
Estudos coordenados por diversos pesquisadores, entre eles o psicólogo americano Randall T. Salekin, da Universidade do Alabama, indicam que, de fato, é comum que essas pessoas recorram à violência física e sexual. Além disso, alguns serial killers já acompanhados manifestavam muitos traços psicopáticos, como a capacidade de encantar o interlocutor desprevenido e a total ausência de culpa e empatia. No entanto, a maioria dos psicopatas não é violenta e grande parte das pessoas violentas não é psicopata.
Dias depois do incidente da Universidade Virginia Tech, em 16 de abril de 2007, em que o estudante Seung-Hui Cho cometeu vários assassinatos e depois se suicidou, muitos jornalistas descreveram o assassino como “psicopata”. O rapaz, porém, exibia poucos traços de psicopatia. Quem o conheceu descreveu o jovem como extremamente tímido e retraído.
Infelizmente, a quarta edição do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-IV-TR) reforça ainda mais a confusão entre psicopatia e violência. Nele o transtorno de personalidade anti-social (TPAS), caracterizado por longo histórico de comportamento criminoso e muitas vezes agressivo, é considerado sinônimo de psicopatia. Porém, comprovadamente há poucas coincidências entre as duas condições.
O segundo mito diz que todos os psicopatas sofrem de psicose. Ao contrário dos casos de pessoas com transtornos psicóticos, em que é freqüente a perda de contato com a realidade, os psicopatas são quase sempre muito racionais. Eles sabem muito bem que suas ações imprudentes ou ilegais são condenáveis pela sociedade, mas desconsideram tal fato com uma indiferença assustadora. Além disso, os psicóticos raramente são psicopatas.
O terceiro equívoco em relação ao conceito de psicopatia está na suposição de que é um problema sem tratamento. No seriado Família Soprano, dra. Melfi, a psiquiatra que acompanha o mafioso Tony Soprano, encerra o tratamento psicoterápico porque um colega a convence de que o paciente era um psicopata clássico e, portanto, intratável. Diversos comportamentos de Tony, entretanto, como a lealdade à família e o apego emocional a um grupo de patos que ocuparam a sua piscina, tornam a decisão da terapeuta injustificável.
Embora os psicopatas raramente se sintam motivados para buscar tratamento, uma pesquisa feita pela psicóloga Jennifer Skeem, da Universidade da Califórnia em Irvine, sugere que essas pessoas podem se beneficiar da psicoterapia como qualquer outra. Mesmo que seja muito difícil mudar comportamentos psicopatas, a terapia pode ajudar a pessoa a respeitar regras sociais e prevenir atos criminosos.

Without conscience – The disturbing world of the psychopaths among us. Robert D. Hare. Guilford Press, 1999.
Handbook of psychopathy. Christopher J. Patrick (ed.), Guilford Press, 2007.
Fonte: Mente e Cérebro

sábado, 13 de abril de 2013

Dia do Beijo! 13 de Abril!


Beijo roubado, beijo estalado, beijo de cinema, beijo na chuva, beijo de amor, beijo de amizade, beijo de amigo, beijo de mãe, beijo na testa, beijo demorado, beijo de saudades, beijar...

Feliz dia do beijo!!

Perguntei a um sábio...




Perguntei a um sábio, a diferença que havia entre amor e amizade, ele me disse essa verdade...
O Amor é mais sensível, a Amizade mais segura. 
O Amor nos dá asas, a Amizade o chão. 
No Amor há mais carinho, na Amizade compreensão. 
O Amor é plantado e com carinho cultivado, a Amizade vem faceira, e com troca de alegria e tristeza, torna-se uma grande e querida companheira. 
Mas quando o Amor é sincero ele vem com grandes amigos, e quando a Amizade é concreta, ela é cheia de amor e carinho. Quando se tem amigos como você... ambos sentimentos coexistem dentro do seu coração.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

E aí, vamos pra balada?



Nossa que perfeito esse texto!!!!

O cara conseguiu traduzir em palavras tudo o que sinto, penso e vejo com relação ao que é "balada"!
É bom saber que não estou sozinha nessa linha de pensamento...

"E aí, bora para noitada ???

Primeiramente, você chega na balada e observa que metade das mulheres estão com um vestido de elástico, já a outra metade está com uma regata branca ou top e por cima uma blusa fina, junto com uma saia alta ou short customizado.
Usando o insistente perfume 212, Angel e Light Blue. Mas até aí tudo bem pois o uniforme faz parte. Não muito distante disso você vê alguns homens com uma camisa polo com “número 43” nas costas e um cavalo gigante no peito, perfume one million e a barriga saliente, com as mulheres mais bonitas da festa. Alguns gastando dinheiro que não tem, outros gastando por gastar e outros como eu agora, pensando em como funciona tudo isso… Nesse instante por algum motivo você se sente diferente daquelas pessoas. Culturalmente instruídos a sempre segurar um copo na mão seguimos o nosso caminho em busca de algo que no fundo não sabemos se realmente faz sentido.
Alguns caras querendo se divertir e outros numa disputa inútil para ver quem é o mais frouxo. Frouxo simplesmente por não conseguir pegar uma mulher só com o papo, por não saber jogar esse jogo de homem pra homem, mas novamente até aí tudo bem..pois cada um usa e atira com as armas que tem.
Em meio a tudo isso, me pergunto: onde está a conquista?
Cadê o charme?
O ato de arrancar um sorriso sincero, de você?
Ficar com a mulher por ter falado a coisa certa na hora certa, sem sensacionalismo.
Só acho que as coisas estão perdendo um pouco da graça. Então depois de consecutivas experiências dessas, você acaba vendo que o mundo de balada é muito limitado e o mais importante, que o que você tanto procura, não está e nem estará ali.

De forma alguma estou dizendo que não gosto de balada, ou que balada é algo de pessoas “vazias”, mas infelizmente na maioria das vezes é isso que eu vejo, mulheres que só querem levantar seu ego e homens que acham que baixar um litro de bebida lhe faz ser o macho "top" da festa.
Cada vez mais as pessoas têm a necessidade de mostrar ser uma coisa que não são, e principalmente terem seu ego exaltado.
Agora só falta elas perceberem que isso não leva a lugar nenhum.

Chegamos num ponto chave da sociedade, onde máscaras valem mais do que expressões, garrafas de bebida em cima da mesa valem mais do que apertos de mão e companhias falsas valem mais do que uma conversa sincera com a menina menos atraente da festa.

Por fim entenda que você pode ser uma pessoa super charmosa, educada, inteligente ou qualquer outro adjetivo, mas se a outra pessoa não for equivalente, ela não irá perceber o quão valiosa você é.

Ficarei em casa hoje rs"

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Tenho Namorado Mas Gosto de Outro


ESTAMOS COM ALGUÉM, MAS PENSANDO EM OUTRO. TODA VEZ QUE ESSE ALGUÉM APARECE, VOCÊ VIRA DO AVESSO POR DENTRO


[O texto serve para ambos os sexos, embora escrito no feminino]



Às vezes fica tão difícil de conter. Você gosta do seu namorado(a), mas tem aquela pessoa que mexe com você. Algumas vezes é alguém do trabalho, outras vezes, uma antiga paixão que já estava dentro de você que reacendeu, e você não sabe muito bem o que fazer.
Você não quer continuar enganando seu namorado, mas também não consegue fingir que a situação não existe.



A primeira coisa que devemos pensar, são nas situações diferentes que temos. Cada caso é um caso, mas uma coisa deve ser esclarecida em todos eles: Não se deve cometer a traição em nenhuma das hipóteses.



Organizando os Fatos



A primeira coisa que você deve pensar, é no fato de ter um namorado. Está bem claro que você tem um compromisso com aquela pessoa, mesmo que seja leve. Ninguém gosta de ser enganado, então a primeira coisa a se fazer, é se colocar no lugar do namorado.



Coloque seu coração de lado por alguns instantes e faça uma análise lógica da sua situação:



Outra coisa que você deve fazer, é pensar o quanto gosta dele, e o quanto ele é importante na sua vida. Sua razão pede pra você fazer o que? Se você não fosse apaixonada por essa outra pessoa, gostaria de ser apaixonada pelo seu namorado? Ele representa muito pra você? Ele te trata bem? Enfim, você irá colocar em ordem seus pensamentos, focando no quanto este seu namorado é importante.



A próxima coisa a se fazer, é pensar no outro também de forma racional, no perfil dessa pessoa. Quais as qualidades dele? Como é seu caráter? Ele gosta de você? Você sente atração física apenas? Faça todas as perguntas possíveis procurando ao máximo ver tudo pelo lado de fora.



Agora pense no que você sente. Quais seus sentimentos com o namorado e com o outro rapaz. São fortes o suficiente pra acabar com o namoro? Se não, é melhor esquecê-lo.



Sobre a Paixão



Antes de mais nada, saiba que o famoso termo da vovó é real - "pode ser fogo de palha", ou seja, tudo queima muito rápido e depois passa.




Talvez o sentimento pelo outro seja passageiro. Ele pode ser mais intenso porque é paixão. Você não está com ele a tanto tempo, então não conhece todos os seus defeitos, e acaba colocando ele num patamar mais alto no seu coração, porque ele faz seus hormônios dançarem. Quando a paixão acaba, sobra um sentimento, que talvez seja o que você sinta pelo seu namorado agora. Talvez seja amor, e jogar tudo pro alto por algo que seria apenas uma aventura é coisa pra se arrepender no futuro.



Sobre Caráter



Se você acha que não vai conseguir esquecê-lo e pode cometer uma bobagem, é melhor terminar seu namoro. Ser claro e explícito com o compaheiro sobre tudo o que está sentindo, é sempre o melhor caminho pra se manter limpa. Fazer coisas erradas pra "ver se dá certo" e depois ficar com consciência pesada, só vai manchar você mesma.



Aqui vai algumas citações sobre culpa:


Todo o homem é culpado do bem que não fez  Voltaire   

Não se é menos culpado não fazendo o que se deve fazer do que fazendo o que não se deve fazer   Aurélio 


Seja uma pessoa limpa. As duas escolhas mais certas nesse caso são:



  1. Contar o que sente ao namorado - Terminar ou não. Se não terminar, procurar se apaixonar por ele novamente, cuidando um do outro e do relacionamento que pode estar cansado. Se terminar, você terá sido uma pessoa que joga limpo e não brinca com os sentimentos dos outros.
  2. Não contar  e também trabalhar o relacionamento com seu namorado, reavendo a paixão que está dormindo, procurando assim esquecer o outro.


Lembre-se, enganar de forma alguma é um ato bem pensado. Você precisa poder contar com seu namorado nessa situação difícil, sendo uma pessoa verdadeira. Mesmo que você ache melhor terminar o namoro e acalmar seus sentimentos, estará fazendo também fazendo algo certo. Mas quando conseguimos nos apaixonar por outra pessoa tendo alguém do nosso lado, o problema está justamente aí no seu namoro. Passar mais tempo com o namorado do que com o outro, voltar a se apaixonar pelo namorado, buscar com ele uma forma de sair da rotina, pode ser a melhor solução para se ter certeza de que aquele sentimento pelo outro era equivocado e passageiro.



Também não tente usar aquele famoso termo "Dar um tempo", pois dar um tempo, não existe.




segunda-feira, 8 de abril de 2013

Você é o que escolhe ser!


                                                 A vida não dá nem empresta,
não se comove nem se apieda...
Tudo quanto ela faz é retribuir e transferir
tudo aquilo que nós lhe oferecemos! ( Albert Einstein)

quarta-feira, 3 de abril de 2013

O encantador de cães-guia.


O psicólogo George Harrison dedica sua vida à formação de cachorros que transformam a vida de quem não enxerga.

O instrutor George Harrison, fundador do Instituto Cão-Guia Brasil, e a cadela Pucca (Foto: Arquivo Pessoal)

Julho de 2001. Copacabana, Rio de Janeiro. O carioca George Harrison, então com 25 anos, participava de um evento sobre veterinária e comportamento animal. Entre os palestrantes convidados, estava a brasileira de descendência russa Ethel Rosenfeld, ao lado de seu inseparável labrador de linhagem inglesa, Gem. Harrison ficou encantado com a sintonia com que os dois se comunicavam. Ela, cega. Ele, seu cão-guia.
Ethel perdeu a visão aos 13 anos, em um acidente cirúrgico. Um tumor havia sido detectado em seu cérebro. No dia da cirurgia, os médicos perceberam que não se tratava de um tumor maciço, mas líquido. Sua retirada deveria ser feita com uma agulha que, por acidente de percurso, atingiu o nervo óptico. Era 5 de julho de 1959. Naquele dia, Ethel perdeu, além da visão, todos os movimentos do pescoço para baixo. Nem deitada conseguia ficar direito. Faltava-lhe equilíbrio. Era contornada por travesseiros para não rolar da cama. Um ano e meio depois, após tratamentos e fisioterapia, recuperou os movimentos que havia perdido. Menos a visão. A medicina a considerava cega. Mas ela ainda “enxergava” sombras e borrões.
Certa noite de fevereiro de 1997, Ethel fazia tricô. Já era tarde, lá pras 23h. Como de costume, foi pegar um novelo na sacola em que sempre guardava lãs nas cores preta, cinza e branca – tonalidades que era capaz de distinguir. Naquela noite, todos os novelos se misturaram. Do nada, de repente, tudo ficou preto. Ela tentou, em vão, jogar os novelos sobre a mesa e, depois, os aproximou à parede branca para ver se conseguia identificar algum contraste. Nada. Sua mão encontrou o disjuntor na parede. Por alguns minutos, ficou apertando-o para cima e para baixo. Aos prantos, ligou para um amigo: “Fiquei cega!”. Com sono, ele respondeu: “Você está louca? Desde que te conheço você é cega”. Para ela, perceber sombras e vultos era um alívio, um ponto mínimo de referência. Perder o pouco que tinha foi desesperador. “Foi como fechar os olhos bem forte e não abri-los mais”, diz. Ethel tinha 49 anos. 
Como a maioria dos cegos, Ethel andava com bengala. O instrumento longilíneo de metal a ajudava a identificar degraus, postes e calçadas. Mas não a protegia de obstáculos aéreos, como orelhões e arbustos, e até mesmo de pessoas, como mendigos no chão. O cego precisa andar batucando a bengala de um lado para outro. Isso, de certa forma, afasta as pessoas. Nos Estados e na Europa, é comum que funções da bengala sejam exercidas por cachorros. Os cães-guia. Esses animais são selecionados ainda filhotes e, até atingirem, em média, dois anos, passam por treinamentos intensivos que os tornam aptos a levar pessoas cegas de um lugar para outro, com segurança, desviando de todos os obstáculos. Não se sabe ao certo a origem dos cães-guia. Mas escavações em Pompeia – cidade italiana devastada pela erupção do vulcão Vesúvio em 79 d.C. – já registraram desenhos que pareciam ser de um cego guiado por um cachorro. O treinamento de cães para a função de guia começou a ganhar forma após a Primeira Guerra Mundial, como uma tentativa de reabilitação de soldados feridos. No Brasil, os cães-guia só começaram a ser percebidos pelas ruas há 15 anos, como resultado de um esforço conjunto de alguns adestradores e cegos - entre eles Harrison e Ethel.
Na época em que Ethel perdeu a visão, fevereiro de 1997, não existiam no Brasil escolas especializadas no treinamento de cães-guia. Com a ajuda da sobrinha, Ethel preencheu a papelada da ficha de inscrição para uma instituição americana. Oito meses depois, recebeu por telefone a confirmação de um cachorro “compatível”. Junto com um amigo, o empresário gaúcho Marco Antonio Bertoglio, foi para Nova York. Lá, ganhou Gem. Juntos, passaram por quase um mês de adaptação. Gem foi seu presente de aniversário de 51 anos. E viveu com ela por quase 12 anos.
Ao colocar as patas no Brasil, o labrador sofreu com o calor intenso do Rio de Janeiro. Mas a dupla, ou melhor, time – como preferem chamar os instrutores de cães-guia – teve de passar por obstáculos muito piores. Uma sociedade desinformada, atendentes de restaurantes e hotéis que não permitiam a entrada de animais e “ponto final”, funcionários de ônibus, táxis e metrôs(assista ao vídeo abaixo) que impediam sua passagem. Dificuldades que não puderam ser superadas com ventiladores. Ethel caiu em depressão. Ligou para a instituição americana para devolver Gem. Não achava justo um cão-guia ser desperdiçado com uma mulher que não saía mais de casa. Do outro lado da linha, o instrutor lhe respondeu: “Aguente firme. Esse é o preço pago pelo pioneirismo”.
Ethel foi a primeira brasileira a ter um cão-guia no Rio de Janeiro. Sempre lutou pelos direitos e inclusão social dos cegos. Formou-se em Letras, fez mestrado em Educação Especial, tornou-se professora e consultora de deficientes visuais. Para concluir os estudos, precisou, além de muita dedicação, habilidade para andar pelos degraus irregulares da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), onde estudava. Certa vez ao sair da aula, rolou escada abaixo e bateu a cabeça. Com Gem, ela nunca caiu. O time foi um dos primeiros a levantar a “bandeira” dos cães-guia e a lutar para torná-los realidade no Brasil.
Com um amigo advogado e o apoio de alguns parlamentares, Ethel ajudou a escrever o projeto de lei que permite o ingresso e permanência de cães-guia em lugares públicos e privados de uso coletivo. Após seis anos de tramitação, a lei nº 11.126  foi sancionada. Ethel e Gem foram convidados a participar da cerimônia oficial de assinatura do decreto 5.904/06 que regulamenta a Lei, em Brasília. A conquista no Congresso foi fundamental para assegurar os direitos dos cegos guiados por cães. Mas Ethel acredita que a compreensão da sociedade sobre a importância desses animais foi impulsionada pela novela América, transmitida pela TV Globo em 2005.
A autora da novela, Glória Perez, conheceu a história de Ethel pela mídia e decidiu criar um papel inspirado nela. Após alguns minutos de conversa no apartamento de Ethel, no bairro do Flamengo, Glória foi convencida a dar vida a dois personagens cegos: Jatobá, interpretado pelo ator Marcos Frota, e Flor, vivida por Bruna Marquezine. O primeiro, inspirado em Ethel, perdeu a visão. A segunda nasceu sem ela. “São situações diferentes. Em uma você precisa aprender a viver sem algo que até então era essencial. Na outra, é preciso explicar a alguém o que é um céu, o sol, que amarelo é diferente de azul...”, diz Ethel, que orientou, pessoalmente, os ensaios dos atores. Nas ruas, Gem era confundido com o “senhor Quartz”, o cão-guia de Jatobá, e Ethel reconhecida como uma das porta-vozes da causa. Por isso, mesmo sem ser veterinária ou especialista em animais, ela foi uma das convidadas para o evento em que George Harrison a viu pela primeira vez. Tímido como o beatle de mesmo nome que o seu, Harrison não se aproximou de Ethel e Gem no dia do evento. Ficou admirando o time à distância. Naquele momento, descobriu o que queria fazer da vida: formar cães-guia.
Quando criança, Harrison  acordava bem cedo nos finais de semana para assistir a programas de TV sobre o comportamento e a vida dos animais. Era louco por bicho. Gostava de cachorro, gato, peixe, papagaio. Cresceu rodeado por cães. No final da adolescência, mudou-se com a mãe para um apartamento pequeno. Fazia de tudo para convencê-la a voltar a ter um cachorro. Dona Maggy “vetou” a entrada de rottweillers e dobermanns, mas amoleceu quando o filho apareceu em casa com Gaia, uma filhote de Akita. Impôs uma única condição: o cachorro deveria ser educado. Sozinho, com métodos amadores, Harrison conseguiu que o maior estrago feito pela cadela fosse um par de chinelos roídos.
Naquele ano, usou toda a sua mesada para viajar. Não para lugares divertidos com os amigos, como fazia desde os 13 anos, mas para São Paulo, para estudar adestramento de cães. Durante o curso, que durou cerca de 20 dias, ligaram do Rio procurando um adestrador. Mesmo com alguns dias de experiência, Harrison foi recomendado. Tinha apenas19 anos. Era o primeiro cliente. Logo, já tinha três. Harrison trancou, escondido da mãe, o último ano da faculdade de Desenho Industrial e passou a se dedicar ao adestramento de cães.
Ao observar o comportamento de Gem, Harrison percebeu que sua postura ia muito além de comandos para sentar ou “dar a patinha”. O cão que viu no palco daquele evento em Copacabana não era apenas obediente. Gem era especial. Guiava. E guiava por amor. Alguns dias após o evento, Harrison entrou em contato com Ethel e pediu-lhe ajuda para realizar o sonho de se tornar um instrutor de cães-guia. Não havia cursos no Rio de Janeiro. Ele também não tinha condições de ir para fora do país. Ethel não era treinadora, mas conhecia aquele universo como poucos na época. Ela o orientou a fazer um curso de mobilidade para treinar cegos a se locomover com a bengala. Para entender melhor o comportamento dos cachorros, Harrison ingressou na faculdade de Psicologia. Causava impaciência nos colegas toda vez que levantava a mão para fazer paralelos com cachorros sobre o que aprendiam em aula. Seu trabalho de conclusão de curso foi o desenvolvimento de um modelo próprio de treinamento de um cão-guia. A “cobaia” foi Rhaíssa, uma labradora preta comprada em um canil do Embu das Artes, em São Paulo.
Rhaíssa ficaria no lugar de Gem, que já estava velho e havia sido diagnosticado com um câncer no focinho. Juntos, Ethel, Rhaíssa, Harrison e Gem aprenderam a desviar de postes e sacolas de lixo das ruas do Flamengo. No final do treinamento, Ethel não teve coragem de aposentar Gem e trocar de cão-guia. Rhaíssa acabou presenteada a um músico, morador de uma comunidade de baixa renda em Tribobó, São Gonçalo (RJ). Mas teve de se aposentar mais cedo e passar a viver como um cachorro de estimação na casa de um amigo de Harrison. O instrutor não desanimou e emendou o treinamento de um segundo cão-guia: a labradora Zuca, que até hoje acompanha o estudante de administração Jonas Santiago em seu programa preferido: velejar.
Harrison sentia-se preparado para treinar cães-guia, mas faltava dinheiro para seguir em frente. O treinamento de um único animal gira em torno de R$ 30 mil – desembolsados pela escola, ou no caso, pelo próprio instrutor. A alternativa encontrada foi separar parte do que ganhava com o adestramento particular para se dedicar ao treinamento de cães-guia. Aos poucos, conseguiu apoio de pet shops e veterinários, com vacinas e rações, além de pequenas doações que variavam de R$ 50 a R$ 200. Com o dinheiro da venda da casa que morava com a ex-companheira, construiu um canil e voltou a morar no apartamento da mãe. Em 2009, o canil ganhou nome: Instituto Cão-guia Brasil, em que trabalham uma amiga voluntária e três funcionários encarregados da manutenção e limpeza do lugar. Harrison faz a avaliação dos filhotes, a socialização – em alguns casos, essa fase é feita por famílias voluntárias – leva o cachorro para casa e, por cerca de um ano e meio, treina-o diariamente, de domingo a domingo. É ele também quem entrevista cada um dos candidatos a receber um cachorro e não se cansa até encontrar o dono “ideal”. Acompanha, de perto, o período de adaptação entre o cego e seu cão-guia. Distribui “puxões de orelha” quando o time comete deslizes e os faz repetir o exercício até acertarem.
Em dezembro de 2011, Harrison conseguiu um patrocínio que proporcionou sua sonhada dedicação integral ao treinamento de cães-guia. Infelizmente, cerca de um mês depois, descobriu um câncer no testículo direito. E, “pior”, a recomendação médica de que, se após a operação de retirada do tumor tivesse que fazer quimioterapia, deveria se afastar temporariamente de animais. (Pacientes em quimioterapia têm uma forte queda na produção de glóbulos brancos, responsáveis pela defesa do corpo. Isso facilita infecções por fungos e bactérias) Felizmente, ele não precisou passar pela quimio, mas teve de adiar o treinamento da labradora Júlia por seis meses. “Por isso ela foi entregue um pouco mais velha do que o normal, com três anos”. Em seis anos, 15 cachorros começaram o treinamento. Júlia foi a sétima a conseguir se tornar um cão-guia e, em agosto de 2012, foi presenteada ao analista de sistemas Gabriel Vicalvi. Em breve, algum dos mais de 2 mil cegos que aguardam na fila de espera do Cão-guia Brasil vai receber Fred, um golden retriever. Com Fred, o próximo “escolhido” ou “escolhida” vai experimentar independência, liberdade e qualidade de vida apagadas pela falta ou perda da visão. Ethel está muito orgulhosa do garoto que um dia chegou a ela dizendo que queria ser um treinador de cães-guia. “Ele é um herói.”